Porque não sei o que quero e que querem de mim. Ah, e precisa de mais algum motivo pra sentir angústia?
O que fazem as pessoas que não agüentam o mundo em que vivem e não tem coragem suficiente pra sair dele, por que precisa de muita coragem pra poder se matar e eu que sempre me achei corajosa, percebo-me cada vez mais covarde.
Alguém pode me dizer o que fazer?
Minha cabeça tem estado estranha, esqueci coisas importantes, que vão me fuder... Nossa, e eu que já estou fudida, vivendo sobre pressão interna e externa intensa, consegui me fuder mais um pouco. Por que me traio tanto? Por que faço isso comigo?
Alguma psicologia pra explicar o processo que faz a gente se autodestruir? Estamos num mundo que as pessoas têm câncer, olha isso, iniciar um processo de suas próprias células se dividirem desgovernadamente, trazer o caos da desordem do mundo para dentro do seu corpo. Reproduzir o caos dentro de si. Chega a ser bonito de tão triste que é.
Acho que não iniciei nenhum câncer em mim ainda, mas me sinto trazendo esse caos para dentro de mim, tentando entender essa bagunça, essa lastimável bagunça. E em meio disso, fica difícil lembrar daquela coisa importante para minha vida. Afinal o que é importante tem se perdido tanto por ai, porque também não vai ser perder aqui.
Disse-me Angélica: - olha, do jeito que anda as coisas, dar conta de si próprio por aqui, já é bastante.
Isso porque vivo me preocupando com a vida de todo mundo e deixei a minha virar isso aqui.
E mesmo assim, não deixo de sorrir, de brincar, de olhar para as pessoas nos olhos, de tentar me divertir... Devo ser bem louca mesmo, devo mesmo criar mecanismos de fulga inimagináveis para conseguir viver desse jeito. E pasmem, não me acabo nem nas compras e nem nas comidas.
Se vivemos num Matrix, alguém deve estar puto comigo, porque mesmo assim não me acabo no consumo. Gargalhadas minhas para os donos do sistema que não conseguiram me pegar ainda.
Por outro lado, uma hora vou ter que entrar em uma parte do jogo de novo, preciso voltar a trabalhar, preciso voltar para o “mercado”.
Ninguém por aqui anda fugindo do jogo de precisar ganhar grana e eu também não posso fugir. E pra isso a gente passa por cima de muita coisa que acredita, mesmo que a gente finja, disfarce, não ache que façamos isso com a gente, a gente faz sim, engole a seco muita coisa que não queria, que pensa ser de outro jeito, porque precisamos de emprego e da grana. Esse é nosso mundo, e volto pra pergunta do começo, o que fazem as pessoas que queriam viver de outro jeito? e acrescento: como ser livre?
Uma resposta óbvia é aquela de viver uma vida alternativa, plantar e colher.
Mas eu tenho o rabo preso com uma parte do sistema, tem uma parte do sistema que me interessa. Compro cinema, livros, cds, shows, computador, passagens.
É uma parte mais nobre da nossa sociedade capitalista, é sim! Mas fazer parte da nossa sociedade de informação, de cultura também custa dinheiro e como diz uma cantiga popular que conheço: dinheiro custa a ganhar (pelo menos de forma honesta, sim!). E daí, ficam essas contradições internas. Fica o quero, mas não quero. O faço, mas não faço. Sou, mas não sou. Jogo, mas não jogo. Estou, mas não estou.
O mundo dos que não queriam que ele fosse assim mesmo, que odeia as relações, o jogo sujo, as fragilidades das ligações humanas, o medo, o abuso, o uso, o caos, o tratamento do nosso meio ambiente. Mas ao mesmo tempo quer saber o que é ele, o quanto custa, o que se sabe, o que se faz de arte. Ah, nossas tão belas artes.
Estou lendo: O mal-estar da pós modernidade, do Zugmunt Bauman, aquele que percebe que tudo é líquido...o amor, os tempos, a modernidade...Rapaz, com tanta coisa líquida no que se apegar? Literaturas densas, típicas de como a vida é.
Mas voltando ao livro ainda estou no segundo capítulo, comecei ontem, mas já está borbulhando o primeiro capítulo, o sonho da pureza. Acho que um pouco do meu texto de hoje traz o que já se incorporou do livro em mim, e também de conversas difíceis ao pé do ouvido antes de dormir, e durma com um barulho desses, boa noite.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Sobre a angústia
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