terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A peleja do vento com o coração (sotaqueando em cordel)

E tudo era coisa natural.
Mas se o vento soprasse,
não havia menina que não balançasse.

E mesmo o que parecia sólido como pedra,
se desmanchava no ar na loucura
que se permitem os deuses.

Os prazeres do vento são múltiplos,
quem é que não quer se folha pra voar,
nem que seja um instante a contar.

Pois bem, não sei bem o que foi que houve,
mas um vento estranho bateu por essas terras.
Se veio do mar, quem saberá?
Mas que está cheio de mistérios e encantos, ah tá!
Se os búzios poderão explicar, talvez.
Ponhamos os dias a contar.

O que está sucedendo aqui eu agora vou falar,
é que coração que batia certo,
um pra lá e outro pra cá,
deu agora pra descompassado andar.
Bate um pra lá e falha na hora de voltar.
Pingo d'água deu nó e os sentimentos bagunçaram que só.
Ainda dizem os cablocos que essa é a graça da vida,
pois além de ar e comida, precisa de amor, viola e poesia.

Me diz então cabloco, se com o gozo do vento,
fico inteira e aguento.

Cabloco responde de longe, rindo-se da menina desesperada.
-Finda a tempestade se atente, pois logo que a poeira
se assente, as coisas em ordem vão ficar
e enquanto isso, menina, é rir pra não chorar.