sexta-feira, 27 de junho de 2008

As fogueiras de São João

Bom, arrumei uma pesquisa para fazer durante o São João...
Bora, bora, vivo dura mesmo.
Saída de Salvador, rodoviária lotada, chapéu de palha em quase tudo que é cabeça.
6:30h da matina, meu ônibus ainda não havia chego, observava todo aquele movimento, aquele som alto de falança, gentes diversas, todo mundo tentando garantir seu São João no interior.
Do meu lado uma família, casal e dois filhos, já tinham passado pelo portão de embarque, pedindo informação sobre o ônibus em que iam. Fiscal pega a passagem, olha, diz - Sabe ver não, esse ônibus é pra 18:30 – Família se olha desolada, mulher abaixa a cabeça, o marido não sabe o que faz. Chama o Fiscal, explica que dormiram lá na rodoviária com as crianças, que são de fora, pede ajuda para trocar as passagens, que a sogra tinha comprado errado. Fiscal, sai falando alto pra que as pessoas escutem –Parece que não estudou, não sabe ver hora não! – Pisando em quem já ta por baixo, não precisava ter visto isso não, isso que me desculpem o julgamento, mas se o fiscal estudou, não foi muito mais não. Pensar em ajudar, imagina, naquela muvuca, lei do mundo: Salve-se quem puder! E ainda ouvi os cabras que estavam do meu lado, rindo e dizendo – É, esses vão esperar.
Bom, essa foi só a saída, viagem complicada, ônibus parando em tudo que é beco, levando um monte de gente em pé, quando entrava criança, alguém logo se dispunha a por no colo. E todo mundo pagando passagem, mas pergunta se dono de empresa quer por mais ônibus na linha, não é ele que vai em pé mesmo.
Bom, mas enfim, fui passar meu primeiro São João no interior, está certo que trabalhando, mas foi meu primeiro São João na Bahia.
Na Bahia, como em outros estados nordestinos, São João não só é feriado, como é quase sagrado. Diga-se de passagem, o congresso segundo os telejornais também resolveu fechar as portas, povo devoto esse, nossa Senhora os protejam! Logo pensei na fogueira deles, de certo com nosso dinheiro e não se enganem a fogueira é deles, mas quem se queima somos nós.
Mas voltando, não curti xote não, mas entrevistei um monte de gente pra saber como foi o deles, mais de 100.
Surpreendi-me, a maioria quer tradição de volta, mas se a maioria quer, porque essas porras de kalypso, calcinha preta e sei lá mais o que, o chamado “forró eletrônico”, vende tanto???
Cidade de 50 mil habitantes, bandeiras colorida pelas ruas afora, chapéu de palha que mal cabe na cidade de tão pequena. Casas com fogueiras, coisa bonita de ver. Mas prefeito bom é prefeito que faz festa, e o pessoal não está muito satisfeito com esse não, diz que é o do PT, é ruim, só quer investir no social, e está privilegiando os cantores regionais.
O povo quer atração famosa seu prefeito!!!
Ai, seu prefeito, na ambulância não precisava ter economizado, né? Afinal. Saúde é social e teve gente passando mal que não teve atendimento, seu prefeito.
Passadas todas as reclamações da festa e do prefeito desses dias, hora de pegar o chumaço de pesquisas e mala e pé na estrada. Ufa! A volta vai ser de carro.
Estrada de terra, pra fugir do tráfego. Velocidade lenta, árvores, cheiro de chuva, fim de tarde. Bucólico.
A luz estava linda, entre o claro e o escuro, aquela luz que acalma a agonia da alma. Rio rodeando.
Por ali fomos passando pelos povoados, crianças pelas ruas e de bicicleta. Casas de barro, mulheres, várias mulheres carregando seus baldes de água na cabeça e coisitias mais.
“olha pro céu meu amor, veja como ele está lindo”
O céu já estava ficando lindo, com as estrelas brilhando na falta de luz da
cidade, mas as mulheres não podem olhar pra cima. E nem pra baixo também, a cabeça se mantém toda firme, para que a água não venha toda ao chão.
Mas o que mais me tocou foram as fogueiras, porque fogo é símbolo forte. Aquelas casas simples, de barro, todas honrando São João, pois cada uma delas trazia sua fogueira à porta.
As fogueiras de olhares perdidos. Os homens que ali estavam também não olhavam pro céu, pois seus olhares se perdiam no fogo.
“Foi numa noite, igual a essa, que tu me deste seu coração”

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Maria,
As fogueiras são realmente lúdicas e envolventes, despertam em nós vários sentimentos, nos levam a meditação.
Quem dera voltasse há 25 anos atrás onde não havia Calypso nem Calcinha Preta (pelo menos não em exibição), onde todos brincavam e se divertiam ao som de trios nordestinos e Luiz Gonzaga, muita comida em todas as casas da roça, com um candeeiro alumiando tudo, mas acabou, junto com as tradições.
Hoje vivemos uma outra realidade, não cabe mais fogueiras em nossas vidas, para cada fogueira que se queima no mínimo três árvores deveriam ser replantadas para compensar o estrago feito pelo desmatamento em nome das fogueiras. É triste, eu também fiquei triste quando soube deste estudo realizado no entorno da cidade de Vitória da Conquista, Ba, a mata que margeia a cidade dimunuiu este ano em 1/3 do seu tamanho em função da coleta de madeira para as fogueiras.
Acho que podemos começar a repensar as tradições, algumas coisas não nos cabem mais, Maria.
Beijo

Maria, Maria disse...

Lu, notícias tristes sobre poesias da vida ou sobre o fim que levam as coisas. O problema é sempre o excesso, vi muita gente comercialiazando fogueiras prontas e sei que se há esse desmate, ele é feito pelos grandes, pelos que gostam do excesso.
Triste notícia.