domingo, 29 de junho de 2008

Dias na universidade

Minha alma suplica o real.
Quer ser atendida, inimagináveis os dias de desgaste.
Tanto suor e lágrimas para comprovação do saber. Um saber otário, ordinário, que se perde nesse cérebro prestes a se desmanchar.
Mas se eles querem meu sangue, terão o meu sangue só no fim!
Não agüento mais, mas tenho que agüentar.
Não agüento mais, mas tenho que agüentar.
Não agüento mais, mas tenho que agüentar.
Não agüento mais, mas tenho que agüentar.
Não agüento mais, mas tenho que agüentar.
Quero gritar, mundo que bosta você está.
Qual o caminho Thiago?
Por onde andar, me ensina que estou perdida, que estou desesperada.
E eu que queria apenas ser, não sei bem o que, mas queria ser, mas de repente pra ser era só nascer.
E hoje só pra ser, estou quase no morrer.
Sufoco-me, agrido-me, saio da cama para coisas que odeio.
Para ouvir os “professores”, essas técnicas academicistas, transmitidas sem nenhum pensar, mas com muito pesar, passar bem!
Ai, ai, professores de modo de vida infeliz, do sadismo, da penalidade, do egocentrismo. Viva a fogueira das vaidades.
Porque não se queimam logo pra acabar com isso.
E eu, o que faço no meio disso? Não sei como agir, me sinto fraca, impotente, só consigo gritar pros meus dedões, tão pra baixo que só meus pobres dedões podem ouvir.
Oh Deus, como queria que fosse real e carnal.
Como queria que fosse meu herói, que me tirasse dessa com o poder que imaginamos que você tem.
Mas você não é meu herói. E tudo que eu faço tem conseqüência, tudo o que eu passo é por que um dia eu fiz, de bom e de ruim.
Tudo é aprendizado, mas como aprender às vezes cansa.
Realmente sou dona da minha razão? Às vezes penso que sim, mas muitas vezes que não.
Que carga pesada é essa atrás de toda ação, em que estamos imersos?
Como mudar meu Deus, me ensina, apareça e me diga! Quero mudar, mas não consigo, sou fraca, logo desisto.
Para que serve minha força, só pra agüentar essa chatisse?
Precisava ser pra mais, né, Senhor!
Chega de contar os dias para acabar, chegar de olhar o relógio para ver se a hora passou, chega de olhar calendário, de esperar fim de semana, de esperar feriado, férias, aposentadoria, morte.
Está errado, não pode ser assim. Não posso estar aqui pra isso.
Que fim isso terá? Ensina-me a caminhar no real, ou me ensina ser forte para viver os meus sonhos, porque assim não agüento mais.
Como eu sei o que quer dizer “entre a cruz e a espada”. Também sei o que quer dizer, “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”. Ah, eu sei! Não queria, mas eu sei. Que merda, eu não queria saber.
Que conquistas me esperam no meio dessa agonia para que o tempo passe, para que as coisas terminem logo?
Tenho medo, muito medo de levar uma vida medíocre, de continuar diminuindo horas, dias e anos.
Ufa, mais um passou! CARALHO!!!!
Onde estamos e pra onde vamos?
Que merda é essa a minha volta, queria não me sujar, mas ela tem pernas. Ela me persegue, ela quer me afundar. O cheiro está no ar e não há bom ar que mascare isso.
Vamos gastar todo o bom ar que o mundo for capaz de produzir, será que venceremos o cheiro da merda?
Que depre, não consigo superar a merda.
Fico obcecada por uma idéia quando começo a pensar nela.
Estou na biblioteca, as pessoas por aqui estão tentando, mas eu nem tentar consigo. Afundei-me aqui nessas palavras vomitadas, para limpar a mente.
Aliás, contraditório falar disso, limpar a mente falando de merda e vômito, mas é limpeza sim, quem disse que limpeza é só com desinfetante.
E eu que tantas vezes sou flor, e algumas outras o jarro de flor, hoje sou só excrementos, mas pra quem sabe de ciclo sabe que excremento é adubo pra muita coisa.
E juro que o fato de eu estar assim não é só culpa minha, sim, te culpo pela minha infelicidade e por elas estarem escritas aqui de modo tão infeliz, mas deixo você também me culpar pela sua. Vamos assumir nossas culpas, chega de disfarçar. Mas não muito, que demais eu não agüento.
De repente podemos partilhar culpas, fica mais leve pra você?
Eu ainda não sei, ando sabendo de poucas coisas por esses dias, mas haja o que houver eu vou tentar.
Um minuto de silêncio interno.
Que susto.
Minha mão não quer parar, parece que obcecada agora é ela, acho que ficou obcecada por essas palavras inúteis.
Coitada, vicia fácil.
Que vulnerável, chego a ter pena.
Aliás, agora a mente pegou gosto de novo. Para pensar sobre a pena.
O que é ter pena? Da onde veio a expressão?
Quem é mais merecedor de pena, quem sente pena ou o destinatário da pena?
Que coisa estranha sentir pena. Tem que ser muito superior pra sentir pena.
E sentir pena de nós mesmos, que fracasso, chega a dar pena.
Pena acumulada podia dar para voar. Ia ficar lá de cima, jogando minhas penas para os que ficaram. Uma a uma. Quem sabe lá de cima possa me sentir grande e superior.
Só ter cuidado para não cair.
Já cai do cavalo, quem nem é tão alto e dói à beça.
Meu braço está aqui para me lembrar dia após dia, dói, para que a lição esteja marcada. E eu ainda ri da menina que se estropiou caindo do próprio salto alto.
Agora minha vontade é de rir compulsivamente. Imagina cair e se estropiar do próprio salto alto. Que desequilibrada insana estou hoje.
Melhor manter distância antes que espirre em você.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

As fogueiras de São João

Bom, arrumei uma pesquisa para fazer durante o São João...
Bora, bora, vivo dura mesmo.
Saída de Salvador, rodoviária lotada, chapéu de palha em quase tudo que é cabeça.
6:30h da matina, meu ônibus ainda não havia chego, observava todo aquele movimento, aquele som alto de falança, gentes diversas, todo mundo tentando garantir seu São João no interior.
Do meu lado uma família, casal e dois filhos, já tinham passado pelo portão de embarque, pedindo informação sobre o ônibus em que iam. Fiscal pega a passagem, olha, diz - Sabe ver não, esse ônibus é pra 18:30 – Família se olha desolada, mulher abaixa a cabeça, o marido não sabe o que faz. Chama o Fiscal, explica que dormiram lá na rodoviária com as crianças, que são de fora, pede ajuda para trocar as passagens, que a sogra tinha comprado errado. Fiscal, sai falando alto pra que as pessoas escutem –Parece que não estudou, não sabe ver hora não! – Pisando em quem já ta por baixo, não precisava ter visto isso não, isso que me desculpem o julgamento, mas se o fiscal estudou, não foi muito mais não. Pensar em ajudar, imagina, naquela muvuca, lei do mundo: Salve-se quem puder! E ainda ouvi os cabras que estavam do meu lado, rindo e dizendo – É, esses vão esperar.
Bom, essa foi só a saída, viagem complicada, ônibus parando em tudo que é beco, levando um monte de gente em pé, quando entrava criança, alguém logo se dispunha a por no colo. E todo mundo pagando passagem, mas pergunta se dono de empresa quer por mais ônibus na linha, não é ele que vai em pé mesmo.
Bom, mas enfim, fui passar meu primeiro São João no interior, está certo que trabalhando, mas foi meu primeiro São João na Bahia.
Na Bahia, como em outros estados nordestinos, São João não só é feriado, como é quase sagrado. Diga-se de passagem, o congresso segundo os telejornais também resolveu fechar as portas, povo devoto esse, nossa Senhora os protejam! Logo pensei na fogueira deles, de certo com nosso dinheiro e não se enganem a fogueira é deles, mas quem se queima somos nós.
Mas voltando, não curti xote não, mas entrevistei um monte de gente pra saber como foi o deles, mais de 100.
Surpreendi-me, a maioria quer tradição de volta, mas se a maioria quer, porque essas porras de kalypso, calcinha preta e sei lá mais o que, o chamado “forró eletrônico”, vende tanto???
Cidade de 50 mil habitantes, bandeiras colorida pelas ruas afora, chapéu de palha que mal cabe na cidade de tão pequena. Casas com fogueiras, coisa bonita de ver. Mas prefeito bom é prefeito que faz festa, e o pessoal não está muito satisfeito com esse não, diz que é o do PT, é ruim, só quer investir no social, e está privilegiando os cantores regionais.
O povo quer atração famosa seu prefeito!!!
Ai, seu prefeito, na ambulância não precisava ter economizado, né? Afinal. Saúde é social e teve gente passando mal que não teve atendimento, seu prefeito.
Passadas todas as reclamações da festa e do prefeito desses dias, hora de pegar o chumaço de pesquisas e mala e pé na estrada. Ufa! A volta vai ser de carro.
Estrada de terra, pra fugir do tráfego. Velocidade lenta, árvores, cheiro de chuva, fim de tarde. Bucólico.
A luz estava linda, entre o claro e o escuro, aquela luz que acalma a agonia da alma. Rio rodeando.
Por ali fomos passando pelos povoados, crianças pelas ruas e de bicicleta. Casas de barro, mulheres, várias mulheres carregando seus baldes de água na cabeça e coisitias mais.
“olha pro céu meu amor, veja como ele está lindo”
O céu já estava ficando lindo, com as estrelas brilhando na falta de luz da
cidade, mas as mulheres não podem olhar pra cima. E nem pra baixo também, a cabeça se mantém toda firme, para que a água não venha toda ao chão.
Mas o que mais me tocou foram as fogueiras, porque fogo é símbolo forte. Aquelas casas simples, de barro, todas honrando São João, pois cada uma delas trazia sua fogueira à porta.
As fogueiras de olhares perdidos. Os homens que ali estavam também não olhavam pro céu, pois seus olhares se perdiam no fogo.
“Foi numa noite, igual a essa, que tu me deste seu coração”

Os dois lados do blog

Um dos lados é o pior, ou não, é uma coisa meio ego centrada, aqui são os meus pensamentos que mandam, minhas palavras. Divido os fatos que quero do meu cotidiano, coloco as coisas que eu estou afim. Tudo passa pelo meu crivo, que delícia!
O outro lado é que é democrático também, as pessoas lêem se estão afim, lêem enquanto agüentarem, pensam o que quiserem dele, e comentam o que estão afim também.
QUITES???

Por que um blog?

Sim, me peguei perguntando isso pra mim mesma, por que eu quero um blog?
Não veio uma resposta, mas percebi que as palavras andam pulando da minha cabeça, andam gritando demais também, o que faz com que minha cabeça doa.
Tinha que dar um jeito. Daí resolvi arrumar um lugar para elas.
Às vezes estou atravessando a rua e algumas escapam e com a falta de educação do motorista brasileiro (e dos soteropolitanos, com os quais ando convivendo, em especial) muitas morreram atropeladas.
Por vezes estou sensível e choro por elas, outros dias, nem tanto e me vem a infantilidade do bem feito, com os resquícios da corrida maluca: eu te disse, eu te disse, eu te disse.
Bom, mas vou tentar manter o foco (não o da dengue...piadinha Silvio Santos, ai minha cabeça é infame sim!). Por minha cabeça passam várias piadinhas bem sem graça, mas tem um ser que mora dentro de mim que se diverte com elas, passo tanta vergonha, ele ri prá caralho.
Mas voltando a pergunta, aliás toda tese tem que ter uma pergunta, por isso achei interessante começar meu blog assim, está certo que a pergunta é primária, mas enfim, a gente vai melhorando.
O certo é que achei que merecia um blog, porque tem coisas estranhas que penso e que fico com vergonha de contar e quando conto descubro que o fulano também pensa, mas também não conta pra ninguém.
Também penso coisas sérias, sou atenta às situações cotidianas, reparo em olhares, expressões, cenas que queria ter máquina na mão para guardar a imagem, reparo nas inquietações humanas e conversando vejo que elas também não são só minhas.
Sou fã do filme: QUERO SER JOHN MALKOVICH, porque adoraria estar dentro da mente das pessoas, nem que fosse por 15 minutos, sempre viajo na idéia de mente, em como as coisas se processam nas outras mentes, por isso esse filme realiza um desejo interno.
Enfim, nesse blog as pessoas vão estar dentro de minha mente por 15 minutos, porque é onde as palavras e os pensamentos que estão em minha mente ganham o seu lugar no mundo físico (mesmo que esse físico seja tão virtual).
E o que nasceu primeiro: as palavras ou o pensamento? Já discuti isso numa aula de filosofia, a aula toda, e nada de conclusão. Alguma sugestão?
Confesso que tenho aquela vontade que ficou estagnada em mim, porque um dia uma pessoa me disse, o homem em sua existência tem que fazer três coisas: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Outras pessoas voltaram a me falar disso em outras fases da vida e isso aqui dentro ficou. Das três realizações, só fiz a primeira, que pela condição ambiental do mundo, acho que é a mais justa, as outras duas é aquela incerteza do resultado. Mas mesmo assim, quero tentar ambas, em sua redundância absoluta!
Por esses dias, depois de assistir por dois dias seminário sobre Milton Santos, ele tem conversado muito comigo, e me trouxe essas reflexões sobre ocupação de espaço. Pronto, resolvi dar voz para as palavras e que elas ocupem seu espaço. Que entrem ai em sua mente pra dar um “rolezinho”, se fizerem cócegas, melhor ainda. Adoro quando elas causam algum efeito.
Aliás, já pararam para pensar como é louco o processo? Porque as palavras estão aqui dentro de mim, de repente começam a ocupar espaços físicos, papel, computador. De repente vão para o virtual, a internet, e da internet virtualmente estão no mundo e pelo mundo (relativizem a pretensão) olhos na tela levam as palavras para o indivíduo e de repente vai parar dentro dele. Então, as palavras que saíram de mim, de repente estão em você. E de repente você nem me conhece, mas está dentro de mim por uns instantes e quando isso acontece, estou dentro de você também, porque meu pensamento foi parar ai.
E assim, criamos uma intimidade que existe em algum plano, porque no outro nós nem sabemos direito quem somos.